A Conjuntura e a Indústria Automóvel



A indústria e mercado automóvel não têm sido excepção a este ciclo de abrandamento e correcções - e de crise para muitos - e os seus efeitos fazem-se sentir em diferentes quadrantes.

As previsões de vendas de automóveis para os anos de 2008 e 2009 estão a ser revistas em baixa, numa expectativa crescente de que o pior ainda está para vir. Aponta-se para uma inversão do ciclo a partir de 2010, com o mercado a atingir, em 2012, os volumes alcançados em 2007.

Ao nível dos fabricantes, em que os maiores players já se encontravam enfraquecidos desde há alguns anos, tem-se verificado um crescente corte nas produções, os agora famosos temporary layoff, e também o encerramento de algumas fábricas. Os maiores afectados são aqueles que já se encontravam em sérias dificuldades antes de se ouvir falar em subprime, nomeadamente os três grandes construtores americanos - General Motors, Ford e Chrysler. Ainda esta semana se falou, por diversas vezes, do pedido de auxílio destes fabricantes, ao abrigo do plano Paulson, sem o qual o seu colapso será inevitável.

Mas o que efectou todos os fabricantes em geral e "condenou à morte" os que já se encontravam em grandes dificuldades antes do início deste ciclo, foram, simplesmente, o aumento do custo do capital e a contracção do mercado. Estes dois factores estão a inviabilizar o cumprimento dos objectivos de volume e resultados (linha de cima - linha de baixo) dos fabricantes, levando-os a cortar os volumes de produção e à tentação de diminuírem os planos de desenvolvimento de novos modelos.

E é precisamente nesta última medida - plano de desenvolvimento de novos modelos - que se fará a diferença entre os que sairão mais fortes e preparados deste período e aqueles que sucumbirão ou serão absorvidos por outros. Não existe nada mais arriscado que ceder à tentação de diminuir o investimento em I&D de novos modelos. Novos, diferentes e inovadores modelos são essenciais para qualquer marca ganhar quota num mercado saturado, procurando nichos e "oceanos azuis" que se traduzam em mais vendas e preservação de margens de comercialização.

O desafio agora é - que automóveis se irão vender no futuro?


Publicada porSilva à(s) 04:32  

4 comentários:

Anónimo disse... 20 de novembro de 2008 às 05:21  

Caro André,

Em resposta à tua pergunta, e apesar de não ter grande informação sobre o que se passa no sector automóvel, gostaria de deixar aqui expressa, qual a minha opinião sobre os automóveis do futuro. Considero que será vital o desenvolvimento e utilização de fontes de energia mais limpas e menos dependentes do petróleo, como por exemplo, a energia solar ou a utilização do Hidrogénio. E pressinto que os automobilistas exigem que os carros possuam cada vez mais tecnologia que auxilie a condução e aumento o nível de segurança dos seus ocupantes. Concordo 100% contigo quando afirmas que o desinvestimento em I&D pode ser vital para o futuro de algumas marcas. Vencerão aquelas que souberem encontrar a formula correcta entre redução de custos e necessidade de investimento estratégico.

Um abraço,

Guilherme Perry Sampaio

Anónimo disse... 20 de novembro de 2008 às 06:11  

no que diz respeito à realidade portuguesa ver esta noticia Carro eléctrico norueguês a caminho de Portugal e confrontar com possiveis incoerencias

em relação à realidade mundial e não sendo também um expert na matéria deixo só um link para uma palestra dada em stanford por um dos gurus da eficiência que é Amory Lovins.
Entre as diferentes palestras indicadas aqui há uma especificamente sobre a mobilidade terrestre (lecture 3 - transportation).
A mim demontra-me que é possivel um outro e melhor futuro.

Anónimo disse... 20 de novembro de 2008 às 13:23  

Estou de acordo com o Guilherme que o Hidrogénio (mais do que o sol) pode vir a ser uma opção. No entanto, creio que o que o André questiona não é bem isso. Fala de um futuro próximo e das opções que cada um toma em tempos de crise profunda. Ou que toma, ou que pode tomar.

Creio que as empresas asiáticas podem tentar aproveitar a oportunidade para crescer nesta fase, mas duvido que os governos europeus (mais pela necessidade de dominio nesta área critica do que por protecção de emprego) - leia-se Alemanha (e Itália e França)- não se envolvam para garantir que a Europa não perde a liderança da inovação nestew sector.

Neste sentido, aposto nos fabricantes alemães, franceses, seguidos dos asiáticos.

Anónimo disse... 23 de novembro de 2008 às 14:30  

Vai haver mudanças, mas nem todos irão pelo mesmo caminho. Algumas marcas vão ser tomadas como alvos apetecíveis e como tal é natural que surjam desmembramentos de grandes grupos, como por exemplo a GM e a Ford, com algumas marcas a tornarem-se mais independentes. Por outro lado, a solarworld, empresa de energias renováveis, já manifestou vontade em comprar a opel e, tratando-se de um outsider do mercado automóvel, indicia que novos players poderão demonstrar interesse neste apetecível sector. Destes novos players alguns poderão ser dos países emergentes, onde já existe acesso à tecnologia, tomando posições e passando a construir viaturas nestes países. Outro caminho poderá ser a construção de determinado tipo de veículos, mais utilitários e de menor valor acrescentado, passando a ser produzidos em países “low cost”. Uma coisa é certa, os motores de combustão têm os dias contados e irão surgir novos motores não poluentes. Estou convencido que os americanos e os europeus não vão perder o comboio, mas para conseguirem manter um protagonismo no sector, terão que “abrir portas” aos capitais de novos players. Quem está mais em dificuldade são os construtores americanos, que têm perdido uma grande quota de mercado. Note-se que a GM já só tem uma quota de cerca de 25%! A subida muito rápida do petróleo acelerou imenso esta perda de quota, com as empresas e particulares a optarem por viatura asiáticas mais económicas, menos “gastadoras” de combustível e menos poluentes. Esta queda de quota criou um “buraco” enorme nas suas contas e viram os asiáticos a invadirem o seu mercado. Acho ainda que a Toyota também terá “cartas para baralhar” o mercado, na medida em que está fortíssima e poderá induzir a um movimento de fusões. É incrível como um sector em grandes dificuldades está a criar enormes oportunidades !

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