Tudo isto é novo... Qual será a melhor estratégia?

Se um executivo tem menos de 14 anos de experiência como gestor “sénior”, nunca teve de gerir os negócios numa situação de crise. Neste novo cenário, tudo parece novo.
Dada esta “inexperiência” levantam-se muitas dúvidas: qual será a melhor estratégia? Neste sentido ficam aqui algumas sugestões.

#1 Strategic Sourcing
Avaliar regularmente quais os custos directos e indirectos, procurar oportunidades de redução e possuir um sistema categorizado de custos, poderá permitir uma rápida mensuração dos retornos esperados pela renegociação de contratos com fornecedores e/ou cortes efectuados.

#2 Reestruturação das Actividades de Marketing
A maioria das empresas cai na “armadilha” de reduzir estas actividades. Alguns ganhos obtidos no ponto #1 poderão ser canalizados para promover a renovação de contratos com clientes, por períodos mais longos, de forma a enfraquecer e “bloquear” a concorrência. Claramente existem algumas oportunidades nesta crise.

#3 CRM System
Neste período de crise é imperativo que as empresas conheçam os seus clientes, logo sugere-se um investimento em SI, nomeadamente no CRM - Customer Relationship Management, melhorando-o e adaptando-o a esta nova realidade. Conhecendo melhor os seus clientes e mercados poderão ser tomadas decisões seguras em busca de maximizar a rentabilidade.

É importante que cada empresa, por si, encontre a melhor estratégia.

Muitas outras iniciativas poderão ser adicionadas ou poderá não concordar exactamente com a forma de implementação, no entanto neste período é importante debater para que cada empresa possa por si encontrar a melhor estratégia.

Vasco Oliveira - Planeamento e Controlo de Produção
oliveira.vasco@gmail.com
Publicado no Jornal Meia Hora




Publicada porSilva à(s) 02:57 0 comentários  

Puramente #9 - Outliers


Nome: Outliers - The Story of Success

 

Autor: Malcom Gladwell

 

Data: Novembro de 2008 - Little, Brown and Company

 

Frase: "Success follows a predictable course"

 

Keywords: Vantagem Inicial; Oportunidade; Regra das 10 mil horas; Legado Cultural; Discurso Mitigado


Apreciação: ***

 


Este é um livro sobre o sucesso e desempenhos extraordinários. Mas não confundir com um manual de "auto-ajuda", de relatos biográficos ou uma lista de fórmulas milagrosas. 


Segundo o autor, o "sucesso" é resultado de um número reduzido de detalhes. Basta que um desses factores se altere para que duas pessoas aparentemente com o mesmo potencial tenham percursos muito diferentes.


Para Malcom Gladwell há um enviesamento na forma como o sucesso é visto pela sociedade, normalmente como um processo de mérito individual. Pelo contrário, os desempenhos extraordinários são um produto do mundo, do contexto. Dependem de um certo talento natural, de alguma inteligência analítica, mas o que faz a diferença normalmente são as oportunidades, alguma sorte, muito treino, legado cultural e a chamada "inteligência prática" - saber o que dizer e a quem, quando dizê-lo e provocar o efeito pretendido com o que se diz ou faz. É dado o exemplo de como o indivíduo com o QI mais elevado dos EUA - Christopher Langan - tem uma vida aquém das expectativas.


É um livro bastante fácil de ler. Pode agradar a vários públicos já que, para além dos argumentos e conclusões do autor, há muitas descrições, detalhes e histórias. Aliás isso pode ser visto como um defeito em "Outliers", que poderia ter sido escrito com metade das páginas se a intenção fosse só transmitir as ideias. O livro está dividido em duas partes. Na primeira fala-se da Oportunidade e na segunda sobre o Legado. É nesta segunda parte que aparecem 50 páginas "obrigatórias" - Gladwell explica o que causa uma grande parte dos acidentes de avião, ligando-os ao legado cultural e ao discurso mitigado dos intervenientes. 


Apesar do enorme sucesso e "buzz" que já regista nos EUA, não me parece que vá ter o mesmo impacto disruptivo de "Blink" ou "The Tipping Point", livros em que o tom "contra a corrente" também está presente.


Em resumo, o "sucesso" segue um caminho previsível, não sendo sempre os mais inteligentes a alcançá-lo. Os "outliers" são aqueles a quem foram dadas oportunidades e tiveram a força e a capacidade de as aproveitar.





Publicada porUlf à(s) 04:38 1 comentários  

Ética vs Lei

A frase foi proferida por um administrador de uma das maiores empresas do país, num ambiente reservado, mas não restrito: “Os gestores têm o dever de não respeitar a lei, sempre que tal beneficie a empresa e seja ético”. Não é decerto uma afirmação consensual, mas será legítima?


Os maiores sábios da face do planeta passariam serões divertidos na busca de uma definição consensual de ética. Dificilmente o conseguiriam algum dia, sobretudo se fossem de educações distintas ou religiões diferentes. Os princípios morais – base para a construção dos limites da ética em cada cenário real - não são factos, mas variáveis de grande sensibilidade, influenciadas por complexas e multivitaminadas equações. Não encontro suficiente sustentação para a defesa da frase que acima está citada como verdade absoluta, sobretudo porque a lei resulta de uma voluntária aceitação de vida em sociedade, mas a maioria dos cidadãos parece aceitar que a ética está acima da lei no plano pessoal, mas não no empresarial/global. Se alguém lhe dissesse que para recuperar de uma doença necessitava de um fármaco não homologado – e portanto ilegal – mas eficaz, hesitava? Ético, mas não legal. E se lhe dissessem para o introduzir na sociedade sem homologação, apesar da sua eficácia?

Mais do que concretizar sobre a razão, importa pensar sobre o tema. Casos como o de Hugo Chavez são paradigmáticos na prova de que o cumprimento total da lei não serve para nada, comprometida esteja a ética, mas o comprometimento da lei em nome da ética não parece disparatado. Abre é caminho a um perigoso jogo de juízos de valor...
Artigo publicado no Meia Hora de 13/03/2009

Publicada porSilva à(s) 16:07 0 comentários  

Portugal é um esquema em pirâmide



Nouriel
Roubini continua em grande. Será com certeza o economista a quem a crise mais beneficiou em termos de notoriedade e reputação.

Hoje, perante uma pergunta de um jornalista sobre o caso Madoff, disse que toda a economia americana é um esquema Ponzi (de pirâmide). É difícil discordar dos argumentos de Roubini, mas o mais perturbador é que se estivesse a falar de Portugal, diria exactamente o mesmo.

Portugal é um esquema em pirâmide. Resta saber até quando dura...

Filipe Garcia
Economista da IMF


Abaixo segue parte do texto foi retirado do Alphaville do Financial Times)


(...)

A government that will issue trillions of dollars of new debt to pay for this severe recession and to socialize private losses may risk to become a Ponzi government if - in the medium term - does not return to fiscal discipline and debt sustainability.

A country that has - for over 25 years - spent more than income and thus run an endless string of current account deficit and has thus become the largest net foreign debtor in the world (with net foreign liabilities that are likely to be over $3 trillion by the end of this year) is also a Ponzi country that may eventually default on its foreign debt if it does not - over time - tighten its belt and start running smaller current account deficits and actual trade surpluses.

Whenever you persistently  consume more than your income year after year (a household with negative savings, a government with budget deficit, a firm or financial institution with persistent losses, a country with a current account deficit) you are playing a Ponzi game; in the jargon of formal economics you are not satisfying your long run intertemporal budget constraint as you borrow to finance the interest rate on your previous debt and you are thus following an unsustainable debt dynamics (discounted value of your debt growing without limit in NPV terms as the debt grows faster than the interest rate on it) that eventually leads to outright insolvency.

According to Minsky and according to economic theory Ponzi agents (households, firms, banks) are those who need to borrow more to repay both principal and interest on their previous debt; i.e. Minsky’s “Ponzi borrowers” cannot service neither interest or principal payments on their debts. They are called “Ponzi borrowers” as they need persistently increasing prices of the assets they invested in to keep on refinancing their debt obligations.

 (...)




Publicada porUlf à(s) 12:49 0 comentários  

Quebrar barreiras em tempo de crise

Devemos todos reflectir na importância do que diz um dos mais conceituados gurus de gestão, consultor há mais de 20 anos de diversas multinacionais, e co-autor de dois best-sellers da gestão: “Funky Business” e “Karaoke Capitalism”.

Para o sueco Kjell Nordstrom (que esteve em Portugal em Fevereiro para participar na conferência “Business Innovation in 2009”), a inovação e a emoção têm de dominar nas estratégias a concretizar. Na sua opinião, as companhias que melhor podem resistir a este cenário actual são as mais inovadoras e que, simultaneamente, têm maior proximidade com o consumidor, sendo capazes de o seduzir.

Para tal é necessário que as empresas percebam que fazer o mesmo que todos os outros fazem é uma má ideia pois os clientes não estão dispostos a pagar mais pelo mesmo... Por outro lado, terão de arriscar e a primeira coisa a fazer é contratar pessoas que tenham outro background, outra visão, pois os líderes do futuro como diz Kjell Nordstrom “serão uma combinação de “hard and soft”... como Richard Branson... ou Barack Obama... E, em breve, serão as mulheres. Muitas serão as líderes no futuro”.

Os líderes de futuro terão de ser duros, de cortar custos e tomar decisões críticas; mas também terão de ser emocionais e capazes de, agora mais do que nunca, entender os consumidores, motivar os empregados e antecipar as tendências que estão por vir. E esta é, claramente, uma vantagem competitiva para as mulheres.


Assim, depois de reflectir sobre estas palavras e, conhecendo a realidade portuguesa está claro que o caminho a percorrer é muito longo.

Margarida Matos - Gestora

Publicada porSilva à(s) 09:33 0 comentários  

Um comentário agridoce

Começam a aparecer alguns indicadores mais animadores.

Não se trata de dados muito concretos e nem se referem a Portugal, mas permitem ter alguma esperança de inversão do ciclo económico um pouco mais cedo do que é previsto pela maioria.
 

De uma forma simples pode dizer-se que os "indicadores avançados" são utilizados tentar antecipar o que vai acontecer à economia daqui a algum tempo. São uma espécie de "barómetro". E, tal como os barómetros comuns, são tão certeiros como ignorados. Por exemplo, foi assim em meados de 2007. Os indicadores avançados já mostravam que o crescimento estava a dar "as últimas", mas foi necessário chegar a Dezembro para que todos se apercebessem do que vinha a seguir. 

Os indicadores avançados ISM nos Estados Unidos e PMI na China estão a dar sinais encorajadores, melhorando pelo segundo mês consecutivo. Dá a sensação que o exagero na quebra da produção industrial começa a corrigir-se e que a liquidação de stocks está a chegar ao fim.

Como economista prefiro dar mais atenção a este tipo de dados do que aos indicadores mais mediáticos com o PIB, desemprego, consumo privado, entre outros. Esses números continuarão a sair negativos e, se é certo que são os que mais impacto têm no quotidiano de todos, não deixam de ser apenas o resultado do ciclo económico. São "old news" e por isso pouco úteis para tomar decisões.

A parte negativa deste comentário tem a ver com o que não me deixa estar tão optimista. Já se percebeu que a recuperação económica global não será possível sem a estabilização do sector financeiro. E isso, infelizmente, continua por resolver.

Filipe Garcia
Economista da IMF
Artigo publicado no jornal Meia Hora em 10 de Março de 2009


Publicada porUlf à(s) 17:32 3 comentários  

Mudança (*)


O momento presente é de crise profunda, que em Portugal, apesar de tudo, não se sente de forma tão acentuada porque o país vive em deterioração de há vários anos para cá. A verdade, contudo, é que as nossas empresas não são especialmente competitivas em nenhum sector. Quanto ao nosso Estado, genericamente, prima pela ineficiência. Este é o país onde a Justiça prevê crimes de corrupção activa em actos lícitos! Este é o país onde existem 38 mil processos fiscais pendentes nos tribunais, avaliados em 13 mil milhões de euros – quase 10% do PIB! Este é o país onde o Estado consome perto de 50% de toda a riqueza gerada! No meio de tudo isto, a maioria dos cidadãos, verdade seja dita, também não se rala muito e vive o seu dia a dia sem rasgo nem perspectiva. Em suma, nesta trajectória, Portugal não tem futuro.

Infelizmente, eu acredito que o actual sistema político partidário não serve a generalidade dos portugueses. Em Portugal, a democracia indirecta está afastada da população. E as consequências são evidentes: uma parte dos cidadãos deixou de participar nos actos eleitorais; a outra parte virou à esquerda porque inveja os privilégios daqueles que vivem na órbita do Estado. Assim, creio que só há uma alternativa: um novo regime, presidencialista e de democracia directa – uma administração pública simples e menos onerosa –, e uma nova direcção estratégica para o país marcada por uma revolução fiscal. Portugal precisa de mais regulação e de Justiça que funcione, mas não precisa de mais Estado na economia nem de mais impostos sobre os contribuintes. Portugal precisa de ter futuro.

(*) Artigo publicado no jornal Meia Hora a 9 de Março de 2009.

Publicada porSilva à(s) 17:10 2 comentários  

A ver o circo a arder



A inércia dos principais líderes mundiais é assustadora. 

[Ontem] os mercados voltaram a registar perdas expressivas, que devem continuar. Não fora o facto de o Dow Jones ter baixado dos 7000 pontos e a queda já nem seria notícia. O medo continua a instalar-se e os agentes económicos estão paralisados. Continua-se a apagar incêndios com copos de água.

As acções do sector financeiro estão a ser vendidas porque os accionistas receiam perder tudo. As dos restantes sectores estão a desvalorizar porque se nada for feito, as empresas enfrentarão um contexto económico ainda pior do que o actual.

Já se percebeu que a recuperação económica não será possível sem a estabilização do sector financeiro. É também claro que a situação não se está a resolver por si só. Pelo contrário,parece estar criado um processo de entropia. São necessárias medidas drásticas para lidar com a crise. Os “gurus” já falaram (Roubini, Taleb, Krugman, Soros, tantos outros), mas mesmo assim os governos parecem incapazes de fazer o que tem que ser feito – tomar decisões com impacto real. Nacionalizar se for preciso, mas acima de tudo impedir a implosão de todo o sistema.

Os líderes mundiais continuam de braços cruzados. E a ver o circo a arder.

Filipe Garcia
Economista da IMF
Artigo publicado no Diário Económico em 3 de Março de 2009 (pág. 6)


Publicada porUlf à(s) 15:55 0 comentários  

Puramente #8 - Cisne Negro


Nome: O Cisne Negro



Autor: Nassim Taleb



Data (Original): Abril 2007



Frase: "O surpreendente não é a magnitude dos nossos erros de previsão, mas o facto de não termos consciência dos mesmos"



Keywords: Cisne Negro; Platonicidade; Previsão; Narrativa, Assimetria, Não-Conhecimento


Apreciação: ****



Depois de "Fooled by Randomness", Nassim Taleb volta com "O Cisne Negro", uma obra entre o livro de filosofia e o ensaio de gestão contemporânea.

O autor define Cisne Negro como um acontecimento que reúne três atributos: raridade, impacto extremo e previsibilidade retrospectiva (presentes nas Grandes Guerras, no 11/09 ou no crash de 1929) - considerados fundamentais, na medida em que são os "saltos da evolução" (que não se dá com as pequenas mudanças iterativas). Taleb considera que o "mundo civilizado" trabalha segundo a falsa convicção que os seus instrumentos podem medir a incerteza e a previsão é uma ciência. O livro aborda de forma frontal a cegueira face à aleatoriedade, considerado um problema endémico de natureza social.


A lógica bem fundamentada de Taleb torna o que não sabemos mais importante do que sabemos ao ponto de considerar mais relevantes os livros que não lemos do que os que já lemos. É no não conhecimento que existe a probabilidade de ocorrência de um Cisne Negro, o factor que não está no espectro da previsão, abrindo-se assim caminho ao conceito out of the box. O autor – que considera que ler jornais piora o conhecimento do mundo - conclui que o exercício da previsão realizado por analistas económicos não tem valor, porque ignora o imprevisível (Extremistão), onde os milestones ocorrem.


O livro, que tanto dá exemplos de Wall Street como cita Popper, Balzac e Dickens de forma recorrente, merece uma leitura calma e pausada, mas basta uma passagem pelo prólogo para se retirar o main value. Fundamentalmente, tomar consciência do que não se sabe e do risco e condicionamento que esse não-conhecimento pode proporcionar. No fim, fica o receio de que o autor esteja excessivamente certo e a navegação que conhecemos ignore os factores que de forma mais relevante condicionam o futuro.


Artigo publicado no Jornal de Negócios, dia 3/3/2009

Publicada porSilva à(s) 08:37 0 comentários  

Harvard Trends #1 - Mudança de Género

Um dos temas de crescente discussão em Harvard pela sua relevância no mundo empresarial norte-americano e com importantes consequências sócio-afectivas, relacionais e de desempenho nas equipas é a mudança de sexo de um colaborador.

Poucas empresas estão preparadas para estes processos de transição de género, em que as principais questões que os gestores se põem são: trata-se de um assunto do foro médico ou moral? Trata-se de um tema em que o enfoque deve ser o cumprimento da lei ou de normas éticas? De que forma esta questão afectará os demais colaboradores, o ambiente de trabalho e sobretudo o relacionamento com os clientes? Que passos devem ser dados no longo processo de transição? Como gerir aspectos práticos como a utilização de WC´s? Existem questões religiosas que possam gerar conflitos graves? Está desenvolvido um mercado de coaching para este tipo de situações?

O que parece certo é que a empresas se devem antecipar, preparando-se para situações desta natureza antes que elas se concretizem. Consensual: torna-se necessário planear com o colaborador a melhor forma de comunicar a decisão e de gerir o processo de transição.
Publicado na Vida Económica de 22/01/2009
Nota : Os Artigos "Harvard Trends" passarão a ser publicados a partir de hoje também no Espaço "Mercado Puro".

Publicada porSilva à(s) 11:48 0 comentários  

Mais palavras sobre a crise, para quê ?



«Não pretendamos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar "superado".Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que as soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la».


Albert Einstein

Publicada porSilva à(s) 14:20 4 comentários  

Nós, eles e os outros


Recordo uma frase atribuída a Almeida Santos: “para os amigos, tudo; aos inimigos, nada; para os outros? Que se cumpra a lei!”.


Nós – iluminados, poderosos e influentes – estamos acima desta maralha, comezinha e pouco inteligente que atrapalha a nossa vocação providencial e pede explicações que nunca entenderiam. Temos o poder; não receamos usá-lo como nos convier. Só assim é que “isto” tem futuro – somos nós que fazemos o país andar!

Eles, opositores, sindicatos, professores, médicos e juristas, economistas que alertam, empresários com voz própria, os que despedem, comentadores que não fazem propaganda e jornalistas que investigam, são todos uns chatos. Não percebem a nossa missão, não veneram os nossos heróicos feitos, conduzem uma campanha negra. Eles não valem nada!

Os Outros, coitados, como sempre pagam a factura. Desempregados e empregados (sobretudo os públicos, que deviam estar gratos), empreendedores que ficam sem rede (e deviam ter mais juízo), contribuintes registados (que esprememos), pais preocupados e filhos de futuro incerto. Existem para que a lei se cumpra!

Redutora e simplista, esta visão “nós/ eles” embarca numa conversa de inimigos a abater e alvos a conquistar.

Com o advento do relacional, onde a sedução, o envolvimento e a partilha são os argumentos, é preciso congregar esforços e unir vontades para dar a volta – apelar a um espírito de missão colectiva não compaginável com um discurso sectário. O “yes, we can” de Obama não é um exemplo por demais evidente?

Publicado no Jornal "Meia-Hora" em 6-Mar-2009.

Publicada porSilva à(s) 03:34 0 comentários  

Parados no trânsito


Num destes dias estava de carro com a família na nossa viagem matinal em direcção à escola e emprego, ouvindo no rádio as habituais notícias sobre a crise e os dantescos números de despedimentos. Questionei-me se estas circunstâncias, que ganham relevância quando associadas ao endividamento das famílias e à necessária prioridade nas opções de consumo, não deveriam ter efeito no número de viaturas particulares, por vezes ocupadas só pelo condutor, que diariamente asseguram os movimentos pendulares casa-trabalho. Esta utilização predominante do transporte particular em detrimento do colectivo tem um conhecido impacto na nossa “dependência energética”, no ambiente (emissões atmosféricas e ruído) e na sociedade (tempo dispendido nos trajectos, stress).
Como inverter esta situação? Que alertas transmitir à sociedade? Aplicar “portagens” à entrada de viaturas nos centros urbanos (como a Congestion Charge em Londres)? Aumentar os incentivos estatais para manter ou reduzir as tarifas dos transportes públicos? Dissuadir a utilização do transporte individual, favorecendo políticas de car-sharing? Melhorar a rede de transportes públicos, aumentando em particular a sua complementaridade e difusão? Todas estas soluções foram já testadas, com melhores ou piores resultados, mas é importante melhorar a mobilidade urbana, tornando-a mais sustentável a médio e longo prazo.
É urgente que este caminho seja desenvolvido privilegiando uma abordagem realista à nossa sociedade e às nossas cidades. Mas será que tudo não deveria começar numa política eficaz e coerente de ordenamento do território?
Francisco Parada
Publicado no Jornal Meia Hora, dia 5/3/2009

Publicada porSilva à(s) 00:32 2 comentários  

Um branco arriscado


Com a evolução dos padrões estéticos na sociedade é cada vez mais comum a procura por soluções que deixem os dentes "mais brancos".

Existem diversas formas de clarear os dentes. Em alguns casos a remoção de manchas pode ser feita com uma simples limpeza profissional, porém a alteração da cor do dente só se consegue com o branqueamento dentário. Todas as pessoas que estiverem descontentes com a aparência dos seus dentes, com excepção das crianças e das gestantes, podem realizar este tipo de tratamento.

Mas será mesmo necessário procurar um consultório de medicina dentária para realizar um tipo de procedimento que aparentemente é bastante simples?

Há que ter em atenção que os produtos utilizados são feitos à base de peróxido de hidrogénio, que em determinadas concentrações podem provocar irritações e queimaduras na boca, estômago e trato gastro-intestinal. Os riscos do tratamento sem supervisão do médico dentista vão desde a ineficácia do branqueamento, a lesões e queimaduras já referidas, manchas e desgaste do esmalte e hipersensibilidade dentária. Em casos extremos, o uso do produto pode mesmo danificar a polpa, “matando” os dentes.

Nos últimos tempos tem surgido um boom de centros de estéticas, hotéis e SPA’s que oferecem “tratamentos” de branqueamento dentário. Trata-se de procedimentos não regulamentados, sem supervisão médica legal e que colocam em risco a saúde de quem os procura.

Este é mais um caso em que a falta de informação pode levar à escolha de soluções aparentemente eficazes, mas que não estão isentas de risco.


Danielly Garcia
Médica Dentista – OMD 5686
Artigo publicado no jornal Meia Hora de 4 de Março de 2009

Publicada porSilva à(s) 17:25 0 comentários  

Chamaeleonidae

Parece existir consenso que os consumidores em geral e os portugueses em particular querem comprar barato. Atentos aos preços, disponíveis para comparações e escolha do preço mais baixo. Um consenso de pura imaginação. Os consumidores não são assim, os portugueses não são assim.
Num ciclo de compra, o cliente passa sempre por um conjunto de passos, que se inicia com a consciência da necessidade (demand-birth) ou da disponibilidade (supply-birth) de um bem ou serviço, e que termina, depois da transacção, num momento de grande importância: o da dissonância cognitiva. O momento em que o consumidor, depois da compra, se pergunta se comprou bem, se fez um bom negócio, se comprou o adequado…Este momentum é tanto mais importante, quanto mais relevante for a compra face ao orçamento global disponível, o share of wallet.
O que mudou foi que este momento está a surgir antes da compra, tornando-se evidente que o cliente não quer comprar barato: quer comprar bem. Está disponível para o melhor value for money. Cada consumidor tem o seu grupo de commodities (para uns arroz, esferográficas e viagens, para outros leitores de dvd, papel ou chá preto), que por ser indiferenciado vai gerar procura do melhor preço. Em simultâneo, está disponível para pagar mais por melhores produtos, serviços de excelência, marcas que desejem, conceitos que lhes projectem a imagem que aspiram - no entanto, o “mais” que estão dispostos a pagar é um spread que também avaliam. No fim do dia, querem apenas fazer os melhores negócios.
E é assim que surgem os clientes camaleão. Pagam o mínimo pelo indiferenciado, e o justo pelo acrescentado.
Publicado no Jornal Meia Hora, dia 3/3/2009

Publicada porSilva à(s) 17:30 1 comentários  

Em época de balanço


Uma avaliação de desempenho poderá ser tão boa ou tão má quanto as qualidades humanas e competências técnicas do profissional que a realiza.

Os instrumentos de avaliação mais ou menos banalizados nos dias de hoje não prestigiam necessariamente o seu propósito, nem as organizações que os promovem. Faça-se um paralelo com quaisquer outros tipos de medidas para as quais não existem enquadramento necessário ou supervisão: a negligência ou a arbitrariedade podem ser a tendência dominante.

Podem as avaliações de desempenho servir para gestores menos capazes se promoverem pela apreciação negativa de outros? E o que compromete afinal um instrumento que pretende reconhecer e desenvolver continuamente os profissionais, nas melhores empresas? O (im)popular tráfico de influências, o petty management, a desresponsabilização? A ausência de mecanismos que afiram da qualidade das avaliações?
De que instrumentos podem os accionistas valer-se para assegurar que os melhores gestores, os que mais contribuem para os resultados, são efectivamente reconhecidos e premiados? Que instrumentos colocam à disposição de quem é avaliado garantindo direito de resposta? Podem ou não assegurar avaliações consequentes?

Uma cultura de empresa forte só se conseguirá num ambiente são e de valores bem firmados, onde a autoridade e legitimidade da sua liderança seja incontestada. E apenas num contexto deste podem os processos de avaliação, consequentes, serem bem sucedidos. Qualquer tentativa de reprodução numa cultura enfraquecida servirá apenas para acelerar a sua descredibilização.


Publicada porSilva à(s) 07:54 1 comentários  

Construção Sustentável

O meio edificado é o principal responsável pelas emissões de gases com efeito de estufa porque, por si só, consome cerca de metade da energia produzida à escala global. São as boas práticas no sector da construção que maior impacto terão na prevenção e na mitigação das alterações climáticas. Estas boas práticas, precursoras da construção sustentável, são essenciais à qualidade de vida e sobrevivência de gerações futuras.


A Comissão Europeia tem investido no desenvolvimento do conceito ciclo de vida dos materiais e dos edifícios, mas apenas quando o sistema económico valorizar a dimensão ambiental do planeta será possível criar uma consciência alargada, mudando como consequência as práticas da construção. A solução para as disfunções ambientais que causamos está nos actos de cada cidadão, pelo que é essencial que as instituições políticas e económicas que hoje resistem a qualquer transformação, se esforcem para colaborar no desenvolvimento de um modelo económico que integre valores ambientais e sociais. Apenas com uma conjuntura coerente, transparente e favorável ao planeta será possível motivar as pessoas a actuarem de forma solidária e consistente.




Mudar hábitos ou comportamentos implica um esforço. Devem por isso existir incentivos temporários – fiscais, reguladores, económicos - como recompensa do esforço necessário para vencer a inércia e abdicar de hábitos que tornam o futuro insustentável. A prioridade passa por ganhar competências para melhorar o desempenho energético-ambiental do meio edificado e liderar nesta matéria, criando condições para futuras exportações.

Publicada porSilva à(s) 15:10 3 comentários  

PuraMente #7 - Fooled by Randomness



Nome: Fooled by Randomness: The Hidden Role of Chance in the Markets and in Life


Autor: Nassim Nicholas Taleb

Data (Original): Outubro de 2001 - W. W. Norton & Company

Frase: "Ninguém aceita a aleatoriedade no seu sucesso, só nos seus fracassos"

Keywords: Aleatoriedade, Darwinismo, Risco, "Cisne Negro", Karl Popper

Apreciação: *****


Nassim Taleb está agora muito em voga, sobretudo depois do best seller "O Cisne Negro" e de algumas das suas preocupações se materializarem durante a crise financeira.  Taleb é um matemático e trader de opções, mas o livro não é sobre "mercados". Fala-se de evolução, saúde, ciência, cinema, literatura, filosofia e muito mais. 


A ideia central do autor é que se subestima o papel da aleatoriedade ou do acaso. Existe uma predisposição biológica para estabelecer uma relação de causa-efeito, mesmo quando não existe. As superstições são um bom exemplo desta situação. O maior problema é que essa ilusão tem consequências nos processos de decisão, avaliação de riscos e até na percepção do sucesso. "Ninguém aceita a aleatoriedade no seu sucesso, só nos seus fracassos". 


Apesar da sua preparação técnica, Taleb é muito céptico quanto aos processos de inferência estatística, considerando muito imprudente generalizar ou prever o futuro tendo como base as observações passadas. A indução até pode servir para escolher as "apostas" a fazer, mas é inútil para gerir riscos (e evitar os "cisnes negros"). Uma das "ideias-chave" é que "os eventos raros são muito subavaliados".


O livro tem duas partes. Primeiro fala-se de como as pessoas não se apercebem da aleatoriedade e tendem a ser enganadas por ela. Na segunda parte são dados exemplos de enviesamento causados por essa ilusão. O livro é divertido e deve ler-se todo. Taleb escreve bem, apesar de não conseguir disfarçar o seu enorme ego.


O autor assume-se como um céptico, na linha de Karl Popper, negando a existência de teorias definitivamente verdadeiras. Defende o darwinismo económico, salientando uma subtileza - o darwininsmo não assenta na sobrevivência, mas na reprodução. Ora estando esta última exposta a alguma aleatoriedade, o processo evolutivo perde linearidade.


O final deste "Fooled by Randomness" deixa-nos um conselho: "O acaso só não consegue controlar o nosso comportamento. Boa sorte!".


Este é um dos melhores livros que já li. É intemporal e o seu impacto na forma como nos relacionamos connosco e com o mundo é duradouro.


Filipe Garcia
Economista da IMF
Artigo publicado no Jornal de Negócios de 25 de Fevereiro de 2009









Publicada porUlf à(s) 06:51 1 comentários  

Uma Guerra (a sério) na Europa



As crises não devem ser menosprezadas. Nunca se conhecem todas as implicações de um mal estar económico. Como uma gripe: pode passar, é até provável que passe. Mas pode matar. 

O passado está repleto de conflitos que tiveram como origem uma crise económica, que se tornou social, depois política e finalmente militar. A Segunda Guerra Mundial é um bom exemplo. Um fenómeno de depressão generalizada foi terreno fértil para movimentos populistas, nacionalistas e totalitários. O resultado foi o que se viu.

Pensemos na Europa de hoje. A construção europeia iniciada no pós-guerra tinha como objectivo maior impedir para sempre um novo conflito no território. Pretendia-se o entendimento, o progresso e o bem estar comum. Entretanto promoveu-se a mobilidade, o contacto e entendimento entre povos e culturas de forma a chegar a uma Europa tolerante, que todos queiram construir e defender. O sucesso foi pleno. A Europa está em paz desde 1945, no que é o período mais longo de sempre sem guerras. Esta ausência de conflitos militares leva à ilusão de que a paz na Europa é um dado adquirido. Não é.

O processo de construção europeia chega agora ao momento da verdade. Tratados, Maastricht, Constituição, referendos - tudo isso são polémicas menores, muitas vezes terreno de burocratas e de políticos. Está eminente a necessidade de uma grande entre-ajuda entre os países, em que alguns terão que viver pior para impedir a queda de outros. Agora é que vamos ver quão unidos nós, os europeus, somos. Esperemos que saibamos ler bem o passado e não cair na tentação de voltarmos costas a quem é, de facto, igual.


Filipe Garcia
Economista da IMF

Publicado no jornal Meia Hora em 25 de Fevereiro de 2009


Publicada porUlf à(s) 01:40 1 comentários  

Tudo o que já quis saber sobre a Crise de Crédito

Agradecendo ao Frederico Moniz, que me mostrou o vídeo, aqui está em formato de animação uma explicação simples e fácil de entender sobre o que causou a crise de crédito.

Vale mesmo a pena ver, são 11 minutos, mas passam a correr.




The Crisis of Credit Visualized from Jonathan Jarvis on Vimeo.

Publicada porUlf à(s) 09:52 1 comentários  

Perguntas e Respostas - 18 de Fev de 2009


  • Justifica-se, na actual conjuntura, a criação na Europa de bad banks?
Já se percebeu que a recuperação económica não será possível sem a estabilização do sector financeiro. Começa também a ficar claro que a situação não se está a resolver por si só. Deste modo parecem ser necessárias medidas mais drásticas para lidar com a crise.

A utilização de medidas do tipo "Modelo Sueco" que incluem um "bad bank" começa a justificar-se.

  • Se sim, eles devem ser privados, públicos ou mistos?
Não acredito na viabilidade de uma solução mista dado que não seria possível o alinhamento de interesses entre os accionistas - Estado e privados. Por outro lado o sector privado não parece estar capitalizado para constituir os seus próprios "bad banks".

Deste modo a solução mais plausível é de ter "bad banks" públicos.

Se se optar pela solução de "bad bank" públicos, é fundamental que alguns princípios sejam respeitados:

  1. A estratégia de "bad bank" deve ser alvo de um consenso internacional, nomeadamente ao nível da zona euro ou mesmo da união europeia, senão ainda mais vasto. Penso que os países não têm a ganhar em seguir estratégias diferentes.
  2. Nacionalização dos bancos que dele beneficiem, incluindo perda completa por parte dos accionistas. Os depósitos e obrigações simples deverão ser salvaguardados. É importantíssimo que não se premeie ou salve quem "provocou" esta situação ou tomou o risco - em última análise os accionistas das instituições que utilizariam o "bad bank". Importante não criar situações de "Moral Hazard".
  3. Devolução ao sector privado, o mais depressa possível, dos segmentos de banca tradicional/comercial.

  • A criação de bad banks pode criar problemas de concorrência?
Sim. Quando o Estado intervém na economia há sempre perturbações à concorrência. Talvez por isso a comissária europeia da concorrência diz não gostar da ideia.

Neste caso os bancos nacionalizados estariam em melhor posição financeira do que os bancos privados que escolhessem tratar dos seus problemas sem recurso a um "bad bank". Porém podemos estar numa situação de "força maior".

Seria ainda mais danoso para a concorrência se existisse um "bad bank" público, mas em que os bancos que a ele recorressem não fossem nacionalizados. Nesse caso a concorrência seria completamente desleal.


  • Que alternativas viáveis existem à criação de bad banks?
Tendo em conta que o sistema financeiro não está, por si só, a dar conta do problema e que ainda nem sequer começaram os problemas graves nas seguradoras – uma questão preocupante – parece haver poucas alternativas à criação de "bad banks" e/ou nacionalização do sistema bancário.


É importante reter estas ideias chave:

  1. A recuperação económica não ocorrerá sem a resolução dos problemas no sector financeiro.
  2. A resolução desses problemas exige medidas concertadas internacionalmente (nisto a comissária europeia está de acordo).
  3. O sistema financeiro não está a resolver sozinho a situação. Pelo contrário, parece estar criado um processo de entropia.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
(Questões formuladas pela Isabel Resende da LUSA)

Publicada porUlf à(s) 12:54 0 comentários  

Presos no meio

Foto: Luís Ferreira


Mesmo para os mais distraídos começa a tornar-se evidente que não podemos continuar a importar o nível de vida que nos habituámos nos últimos anos. Temos usufruído de rendimentos bastante superiores à riqueza que criamos, só possíveis pelo elevadíssimo endividamento internacional que a nossa economia padece. Aliás, esta situação cria um curioso paradoxo: os sinais visíveis parecem mostrar que nunca se viveu tão bem em Portugal, estando o país cada vez mais pobre.

Colhe algum consenso que, das poucas opções viáveis que nos resta, ganhar quota no comércio internacional parece ser a via para resolver este persistente desequilíbrio das nossas contas externas. Ou seja, para garantir a viabilidade do país precisamos ter empresas fortemente competitivas, capazes de gerar bens transaccionáveis e focadas em mercados externos.

Se, do ponto de vista global, o problema parece estar cabalmente formulado, a nível empresarial há ainda um longo caminho a percorrer, sobretudo no que toca à inovação, à dimensão e às competências.

São problemas particularmente relevantes porque o país atingiu um estádio de desenvolvimento onde arrisca ficar “preso no meio” – com salários que são demasiado altos para competir com a Ásia e a Europa Central e Oriental na transformação de produtos de baixo valor acrescentado; e produtos que não oferecem uma percepção de valor suficiente para competir com economias mais avançadas.

Este desafio é gigante mas não impossível: os sectores e as empresas que são exemplo de sucesso no Mundo inteiro motivam!

Artigo publicado no Jornal "Meia-Hora" em 19-02-2009.

Publicada porSilva à(s) 08:32 2 comentários  

PuraMente #6 - A Estratégia do Oceano Azul


Nome: A Estratégia Oceano Azul


Autor: W. Chan Kim e Renée Mauborgne

Data (Original): Dezembro 2005

Frase:"Criar um novo espaço de mercado não disputado que torna a concorrência irrelevante"

Keywords: Oceano Azul vs Oceano Vermelho; Curva de Valor; Redução; Eliminação; Criação; Elevação.

Apreciação: *****

A Estratégia do Oceano Azul é um livro incontornavelmente obrigatório. Desde a sua publicação original, tornou-se numa referência mundial de estratégia e inovação. É uma obra que vale pela ideia original da sua proposta, que vem acompanhada de um modelo surpreendentemente maduro de aplicação.

Destinado a todos, mas sobretudo para os gestores cujas empresas respiram um mercado altamente concorrencial, o livro (Editora Actual - Maio 2007) – postula que a única forma de vencer a concorrência é deixar de tentar vencer a concorrência – é parar de concorrer. Os autores apelidam os mercados concorrenciais de "oceanos vermelhos", numa analogia ao sangue que resulta de uma disputa aguerrida, espaço onde as empresas não serão sustentáveis, independentemente da sua capacidade de vencer ou não os que com eles disputam o mercado.

Um Oceano Azul é o espaço de todas as indústrias que ainda não existem e que são potenciais propostas de valor para os clientes. Aqui, em vez de empresas na procura desesperada de um aumento da sua quota de mercado, encontramos os que criam a procura, com elevados níveis de crescimento e rentabilidade, tornando a concorrência irrelevante. Depois de definirem claramente esta diferenciada visão do mercado e respectivo espectro da proposta estratégica, os autores dedicam 200 páginas a explicar o framework (curva de valor) e a formulação e implementação da estratégia, citando inúmeros exemplos de oceanos azuis, como o Cirque Du Soleil, Swatch, Blockbuster ou Netjets.

É difícil adjectivar esta obra, pela sua extrema qualidade e intemporal utilidade. Estrondosamente genial seria justo, mas só um termo da língua original fica à altura do livro: "Unputdownable".

Pedro Barbosa
Docente no IPAM

Publicada porSilva à(s) 03:28 8 comentários  

A Apatia Racional

Vão ser tempos muito interessantes. Um dos factores que diferencia a crise actual das anteriores é o impacto que está a ter no consumo das classes média-alta e alta. Neste importante segmento de mercado, a sensibilidade ao preço começa a atingir patamares completamente diferentes dos habituais. Não será (para já) falta de recursos financeiros, será eventualmente o receio do futuro, uma mudança no valor atribuido ao dinheiro, e até algum pudor em manter o nivel de consumo, mas a verdade é que desde o Natal que se assiste ao fenómeno curioso das classes com mais recursos estarem cada vez mais sensíveis a argumentos low cost/high value.


Consequências? Claramente o modelo de vender glamour , de vender produtos exclusivamente pelo apelo e notoriedade da marca, do seu significado como status symbol estará esgotado (pelo menos temporariamente). As politicas de preço Hi/Lo como são, por exemplo, os saldos, que tradicionalmente potenciavam as vendas a clientes de menores recursos, sem canibalizar as vendas a full price aos clientes de recursos mais elevados, estão a induzir um efeito cada vez mais dramático de retardamento de consumo por parte de todos os consumidores, à espera dos melhores preços. A grande novidade é que este comportamento se estende a segmentos de mercado em que a elasticidade preço da procura não era muito elevada.

Mais do que nunca, é necessário estudar o consumidor; entender a forma como nestes segmentos de mercado o valor está a ser redefinido e ajustar a politica de preços e comunicação para este novo paradigma. Conhecer bem e fazer os ajustamentos necessários à estrutura de custos é fundamental, já que as politicas de preços vão ter que mudar para acomodar este período pós “exuberância irracional”

Publicada porSilva à(s) 03:18 5 comentários  

Taxa de Desemprego em Portugal - Comentário


A taxa de desemprego aumentou uma décima entre o terceiro e o quarto trimestres do ano passado, para 7,8 por cento, um valor que fica ligeiramente abaixo das expectativas de alguns economistas e que pode não reflectir os despedimentos e rescisões de contratos anunciados na generalidade dos sectores de actividade, face à actual crise nacional e internacional. (in Público)


Os números reflectem o abrandamento da actividade e não surpreendem, estando integrados numa realidade que vai para além das fronteiras portuguesas.

Dado o carácter ‘lagging’ do emprego e a situação económica actual e previsível, é muito provável que estes indicadores continuem a degradar-se pelo menos até ao final do ano. Prever um valor para o final do ano é pura futurologia, mas pensamos que se poderá pensar numa taxa de desemprego perto de 9%, até porque as estatísticas do emprego podem sempre ser sujeitas a algumas distorções.

Do ponto de vista de eficiência económico-financeira, parece-nos que o governo português deverá evitar cair na tentação de tentar inverter o ciclo económico, dado o carácter aberto e dependente do exterior da economia portuguesa. Será provavelmente um desperdício de recursos dado que a economia portuguesa não poderá arrancar sozinha.

Deste modo, deverá reunir esforços na busca conjunta de soluções para a estabilização do sistema financeiro, minimizar os impactos sociais do aumento do aumento do desemprego e não contribuir para cenários de insolvência nas empresas.

Filipe Garcia
Economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros


Publicada porUlf à(s) 08:51 0 comentários  

O falso "Robin dos Bosques"



A figura do "Robin dos Bosques" está ligada à metáfora do equilíbrio e da justiça. No nosso imaginário vive um herói corajoso e altruísta que retirava aos ricos para dar aos pobres. Por isso não surpreende que haja políticos que gostam de se colar ao personagem. Mas o que realmente acontecia na história?

Reza a lenda que havia um Príncipe João que aproveitava a ausência do Rei Ricardo para explorar o povo trabalhador de Sherwood através de impostos. Era violento e recorria ao medo. O Príncipe João nada produzia e vivia obcecado com a contagem das moedas e a ilusão do poder que a riqueza lhe dava. Robin e os seus companheiros tiravam o que podiam ao Príncipe para devolver (e não dar) aos camponeses e artesãos. Ou seja, a história não trata meramente de tirar a ricos e dar a pobres, mas em aplicar justiça social. Devolver a quem merece para permitir aos trabalhadores e empreendedores da floresta apreciar os frutos do seu esforço. Retirar ao Estado tirano e improdutivo que cobrava coercivamente.

Perante a utilização "popularucha" desta lenda em Portugal há que repor a verdade. O que está a ser proposto pelo Governo é retirar aos trabalhadores eventualmente com mais mérito e que mais apostam no seu sucesso e no do país para dar ao Estado, despesista e improdutivo. Promove-se a evasão e, muito pior, desencoraja-se o progresso profissional e salarial. A história está ao contrário porque parece que o Príncipe João se está a querer fazer passar-se por "Robin dos Bosques".

Pior demagogia só mesmo do "João Pequeno" que, como bom radical, quer que só se despeça onde houver prejuízos.
 
Filipe Garcia
Artigo publicado no jornal Meia Hora em 16 de Fevereiro de 2009

Publicada porUlf à(s) 04:47 0 comentários  

20 por cento


Entre a população portuguesa, existe a ideia generalizada de que a introdução do euro agravou o nosso custo de vida. Sendo certo que alguma evidência empírica assim o confirma, a verdade é que as estatísticas oficiais referentes à evolução da inflação desde então não o demonstram de todo. Aquilo que os números demonstram, de forma inequívoca, é que a moeda única agravou a nossa falta de competitividade face ao estrangeiro. Em Portugal, os custos unitários de trabalho são hoje cerca de 20% superiores aos que eram em 2000. Pelo contrário, na Alemanha, o grande bastião da zona euro, os custos unitários de trabalho permaneceram inalterados de então para cá. Ou seja, tudo o resto igual, Portugal é hoje 20% menos competitivo face à Alemanha do que era há oito anos.

Em geral, estas discrepâncias são resolvidas através de desvalorizações cambiais, daí que alguns economistas defendam que Portugal teria vantagem em abandonar o euro e adoptar outra moeda mais consentânea com a produtividade do país. Essa medida permitiria estimular as nossas exportações, onerar as importações e contribuir para a redução do problema central da economia portuguesa: o défice das transacções correntes, que excede já os 10% do PIB. Infelizmente, essa táctica não deverá resultar num mundo global como o actual. O exemplo maior é a China, cujas exportações baixaram 18% em Janeiro. Assim, mantendo o euro que, apesar de tudo, tem mais vantagens que inconvenientes, a única forma de repor a nossa competitividade é através da redução drástica dos impostos. Ou então, aceitar uma redução generalizada dos salários em 20%.

(*) Artigo publicado no jornal “Meia Hora” a 13 de Fevereiro de 2009.

Publicada porSilva à(s) 14:00 0 comentários  

Karl Marx - A Provocação!

"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros e casas, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"
Karl Marx, in Das Kapital, 1867

Publicada porSilva à(s) 08:20 0 comentários  

Sem discutir a necessidade e as opções...

Sem discutir a necessidade e as opções das grandes obras públicas, é possível analisar os respectivos processos de concurso.

A Alta Velocidade foi preparada para que fossem apresentadas as melhores propostas possíveis tecnicamente, cumprindo todos os requisitos legais, tais como a Declaração de Impacto Ambiental, e permitindo uma racionalização de custos pouco comum. De uma estimativa inicial de investimento para o primeiro troço de € 2.050 milhões, a RAVE lançou o concurso com o preço referência de € 1.450 milhões!

Em contrapartida, temos o Novo Aeroporto de Lisboa. O Governo, porque prometeu lançar o concurso nesta legislatura, irá lançar uma pré-qualificação, sem Estudo de Impacto Ambiental (EIA), na qual deverão ser escolhidos dois concorrentes para posterior negociação.

Como o EIA será concluído durante a negociação (espera-se!), os proponentes terão de incorporar, nessa fase, os custos necessários nos “remédios” definidos pelo referido EIA e que podem representar 8% do investimento total. E se os concorrentes preteridos apresentassem um custo menor para incorporar esses “remédios” alterando, eventualmente, a classificação da primeira fase do concurso?

Temos ainda a privatização da ANA, sobre a qual iremos assistir a muitas discussões - veja-se a justa luta em relação ao aeroporto do Porto - sobre o seu perímetro de privatização e percentagem a alienar.

Estas indefinições, entre outras, transformam uma competição em mercado concorrencial numa negociação bilateral (em fase de negociação ou execução de obra), na qual todos nós, contribuintes, acabaremos por pagar.

Artigo publicado no Jornal Meia Hora em 11 de Fevereiro de 2009.

Publicada porSilva à(s) 00:59 1 comentários  

Grande Depressão 2.0?




















Irving Fisher, um reputado economista Americano (1867-1947) da linha de pensamento neoclássico, apontava um conjunto de factores determinantes para desencadear uma Grande Depressão: o excesso de dívida cujo crédito não tenha suporte em activos seguros e a deflação. Estes determinantes conjugados com o desenvolvimento de bolhas especulativas sobre activos criam um potencial cenário devastador nos mercados. Na sequência das suas reflexões, de forma a sistematizar os factores relevantes que podem conduzir a uma Grande Depressão, Irving Fisher identificou:



  • Pressão para liquidação da dívida e venda motivada por pânico;
  • Contracção na liquidez e quebra no acesso ao crédito bancário;
    Quebra do valor dos activos;
  • Quebra na actividade económica e a precipitação de insolvências;
    Quebra generalizada dos lucros estendida a vários sectores;
  • Redução da actividade comercial e no mercado de trabalho;
    Pessimismo e perda de confiança dos agentes;
  • Levantamento massivo de depósitos;
  • Quebra da taxa de juro directora em termos nominais conjugado com o aumento da deflação.

Irving Fisher estruturou o seu pensamento na experiência vivida na Grande Depressão 1.0 e porque nos dias que correm a maioria dos factores enumerados por Fisher se verificam na actual crise, será de pensar que o futuro próximo não augura nada de bom.

Contudo as circunstâncias e o momento não são os mesmos, porque o mundo mudou de então para cá e a capacidade de concertar medidas é superior. Como é habitual dizer-se: “à primeira toda a gente se engana, à segunda só quem quer”.

Artigo publicado no Jornal Meia Hora em 9 de Fevereiro de 2009

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PuraMente #5 - "How to Talk So People Listen"




Nome: How to Talk so People Listen


Autor: Sonya Hamlin


Data: Dezembro de 2005 - Collins Business


Frase: "How to talk so people listen" (o próprio título)


Keywords: Mensagem visual; Generation gap; What's in It for me?; O medo do palco;


Apreciação: ***



A mudança condiciona a comunicação. Os ambientes electrónicos ganham espaço e têm alterado a nossa capacidade de falar e, tão ou mais importante, de ouvir. Torna-se necessário melhorar a abordagem verbal e visual para quase todas as situações, desde fazer uma apresentação, impressionar um cliente, causar impacto numa reunião ou numa conversa informal. Porque os outros não sabem o que somos, o que temos para dizer, ou simplesmente não estão à partida alinhados com a nossa mente... “comunicar é preciso!”.

Este livro de Sonya Hamlin pretende ser um guia prático para ajudar o leitor a ser um comunicador mais eficiente. Tenta-se fazer algum enquadramento dos processos e contextos comunicacionais, passando-se por uma série de dicas práticas, sempre num discurso que desdramatiza o processo de comunicação. Valoriza-se o papel do trabalho de preparação das apresentações em detrimento do “talento natural” como factor crítico de sucesso.

O livro divide-se em dez capítulos e está bem estruturado, sendo mais do que um "self-help book". O índice é desagregado e permite consultar rapidamente um tópico ou assunto em concreto. O 2º capítulo é importante e uma das razões porque o livro merece destaque. Nele descrevem-se as "4 gerações" - Seniors, Baby Boomers, X e Y. Há que estar atento e consciente às diferenças entre cada grupo para definir as estratégias de comunicação mais eficazes.

O título é feliz porque transporta para a ideia de que a comunicação é um processo multilateral em que se torna necessário colocar o receptor no centro – do "outro lado" existe sempre a pergunta: "o que tenho eu a ganhar em ouvir-te?". Outra mensagem a reter é a necessidade de tornar a comunicação mais visual para alavancar as possibilidades de recordação futura. Há ainda capítulos inteiros sobre métodos de preparação e concretização de apresentações e como vencer o "medo de palco".

Aconselha-se usar um pouco de "filtro" já que o livro é pensado na realidade norte-americana.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

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