O que vem a seguir? (2)


O que vem a seguir?
2. A Economia [portuguesa]

Portugal é uma economia aberta que está sujeita aos ciclos económicos dos principais parceiros. O facto de existirem poucos mecanismos proteccionistas e de se integrar de forma quase plena em todos os grandes mercados (monetário, cambial, capitais, mercadorias e serviços) apenas ilusoriamente se traduz numa maior vulnerabilidade a um 'outlook' económico negativo. Pelo contrário, é a integração da economia portuguesa que permite que se vá ajustando de forma contínua, dificultando a ocorrência de choques mais graves como os que prevemos acontecer em economias de dimensão semelhante, mas mais rígidas e intervencionadas como as da América Latina.
Em face do sucedido nos mercados financeiros a nível global, o PIB mundial terá de ser revisto em baixa de forma substancial. O FMI fala num crescimento mundial de 3% em 2009, números que consideramos muito optimistas. É discutível se iremos sequer testemunhar um crescimento positivo a nível global no próximo ano.
Portugal não estará imune a este cenário. Em 2008 a economia deverá crescer em cima dos 1% (talvez abaixo), com um prognóstico muito reservado para o ano seguinte. Analisemos então cada uma das componentes do PIB:
Consumo Privado - Já analisado no ponto 1. Como já referimos as perspectivas não são animadoras. Esperamos uma forte desaceleração no consumo privado, sobretudo em 2009, com a enorme dificuldade na obtenção de crédito a piorar o cenário. Melhorias só no fim de 2009, sendo optimista.
Consumo Público - É uma enorme interrogação. A equipa do Ministério das Finanças deve estar neste momento com uma grande dor de cabeça ao pensar no orçamento de 2009. Nesta altura ainda não é certo que tipo de meios terá de aplicar no auxílio ao sistema financeiro e às famílias, neste ano ou no próximo. Por outro lado o modelo escolhido para as obras públicas passa pelas parcerias público-privadas, mas as actuais dificuldades de financiamento obrigarão o Estado ou a avançar com mais verbas ou a cancelar inciativas. A tudo isto acresce a imprevisibilidade das receitas fiscais para 2009. 
Investimento - Regra geral investir implica confiança e uma expectativa positiva quanto à economia no médio prazo. Em face de tudo o que se tem observado as empresas estão mais preocupadas em sobreviver do que em crescer e, por outro lado, mesmo os investimentos de reposição e modernização poderão ficar comprometidos por falta de financiamento ou de confiança. Pelo menos até meados de 2009 não é de esperar alterações neste cenário negativo.
Comércio Externo - Uma parte significativa do crescimento estava a ser conseguido pelo bom desempenho do sector exportador. A queda do euro ajuda os exportadores, mas os nossos principais clientes - Espanha, Alemanha, EUA, Inglaterra e França - estão no epicentro da crise. A paralisação na Auto Europa é um aviso do que pode vir por aí. A queda dos preços do petróleo deverá ajudar a  Balança comercial, mas a menor procura de produtos refinados deve prejudicar uma das exportações com mais peso. Dada a rigidez de grande parte das importações nacionais é de esperar uma evolução negativa no comércio externo.
Então o quadro é péssimo para Portugal? Em termos relativos nem tudo será mau porque haverá países em piores circunstâncias, mas seria irrealista traçar um panorama risonho para os próximos 12 meses. 
O país deve aproveitar precisamente o que muitos apontam como sendo uma debilidade - a sua grande integração, nomeadamente no euro. Será no quadro da UE e da UEM que Portugal se poderá destacar, caso garanta o normal funcionamento do sistema financeiro e da economia em geral. Daqui poderá retirar importantes dividendos no futuro.
Algo que seria seguramente impossível caso se tratasse de uma economia isolada, como o caso da Islândia - na bancarrota - bem exemplifica.

(Este é a segunda parte da Trilogia "O que vem a seguir?" 1. O Consumidor; 2. A Economia [portuguesa]; 3. Os Mercados)

Publicada porUlf à(s) 19:00  

4 comentários:

Anónimo disse... 8 de outubro de 2008 às 02:18  

"A média do "rácio de alavancagem" - que relaciona as dívidas dos bancos face aos seus activos - na Europa é de 35, enquanto que nos EUA é de 20."

seria possível indicar a fonte desta informação sff??

Anónimo disse... 8 de outubro de 2008 às 05:12  

Trata-se de um estudo de Daniel Gros e Stefano Micossi para o Centre for European Policy Studies.

Obrigado por comentar.

Ver em:
http://blogs.wsj.com/economics/2008/09/22/european-banks-too-big-to-rescue/

Anónimo disse... 8 de outubro de 2008 às 08:26  

Como se pode interpretar uma descida na bolsa hoje, com uma medida de cortes de taxa de juro não esperada (tal como foi nao era esperada), coordenada entre EUA, UE e Asia??

Penso que se pode dizer que os analistas e investidores, em vez de interpretarem que a liquidez fica mais acessivel e portanto há menos risco, pensaram que se trata de uma media que por ser tomada a ssim só pode dizer uma coisa: desespero - pelo que pode piorar mais ainda. e como nao bateu no fundo...há que vender...

Em qq caso no médio prazo a medida parece ser boa, desde que a desconfiança não coma a margem que os BC libertaram...

Anónimo disse... 8 de outubro de 2008 às 14:40  

vendo de longe acho q a reacçao das bolsas tem duas explicaçoes

uma é a que disseste - o mercado cheira o medo à distancia e lê nesta medida um certo descontrole das autoridades, o que não dá confiança a ninguém. Digamos que as autoridades ja estão a gastar muniçoes 'pesadas' e por isso estao a ficar com menos espaço de manobra...

a segunda razao é que este corte é a confirmação que o outlook economico para os proximos tempos degradou-se de forma muito seria, prejudicando os lucros futuros das empresas.

temos assim a conjugaçao de uma subida do premio de risco com a degradaçao do outlook.

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