O Fim Do Comércio Tradicional


Constitui lugar comum tratar-se o comércio tradicional como uma espécie em vias de extinção, uma função em desaparecimento que urge defender. Na verdade e nos países competitivos, o comércio tradicional não faz falta nenhuma. Onde ainda não morreu, morrerá e finalmente subsistirá apenas por excepção, em alguns nichos locais ou simplesmente por tradição.

O que não podemos nem devemos é confundir comércio tradicional com comércio de rua. E essa confusão é também tão comum que terá certamente deixado alguns leitores perplexos com o primeiro parágrafo. O comércio de rua é essencial para o desenvolvimento local, tanto em zonas rurais, como urbanas. Perde apenas alguma importância em algumas zonas semi urbanas, casuísticamente. Infelizmente em muitos países dos quais Portugal é exemplo, a maioria do coméricio de rua faz-se ainda de forma “tradicional”, ignorando que o cliente mudou e procura serviços que satisfaçam a suas necessidades, precisa que o façam sentir seguro e confortável, gosta de ser surpreendido e necessita de informação e rapidez. O comércio de rua nacional continua a ser a soma das pequenas partes, sem qualquer tipo de lógica de mix comercial, gestão de horários comuns, acessibilidades, informação sobre outras lojas ou animação, quando não de situações mais graves como garantia de estacionamento, protecção básica contra intempéries ou segurança.

Não se pense contudo que é impossível o comércio de rua seguir o exemplo de modernidade que o comércio integrado (armazéns de grandes dimensões multi sectoriais, centros comerciais, “retail parks”, “outlet centres”, etc...) começou a seguir desde há décadas, e o levou onde está hoje. Poderia aqui postular em formas como os comerciantes se poderiam unir; avançar com potenciais medidas que permitissem esse dificil passo; sublinhar a necessidade da intervenção do poder local; alertar para a obrigatoriedade de uma associação, não só de lojistas, mas também de proprietários... Nada disto é de facto necessário.

Existem provas vivas de como o comércio de rua pode ser moderno e integrado, no sentido do total ser melhor que a soma das partes individuais. Os três exemplos mais flagrantes, entre muitos, são a Oxford Street, a Regent Street e a Sloan Street, todas em Londres. Desta última, será mais cauteloso não falar. Apesar de ser na prática um excelente exemplo demonstrativo, não considerarei esta meca da alta costura como modelo de gestão a adoptar, para evitar argumentação baseada na excepção da sua própria tipologia. A Oxford Street Association (
www.oxfordstreet.co.uk) é um exemplo incontornável de gestão moderna: a associação literalmente faz a gestão da rua, como se um espaço de um único proprietário se tratasse, e sem qualquer poder politico para tal: coordena a animação de rua, recomenda aos proprietários dos edifícios que lojistas são indicados e que mix existe já em exagero ou faz falta à rua, ajuda os lojistas nos licenciamentos municipais, informa os clientes de tudo o que é necessário, coordena as relações com autoridades de transportes e gestão de parqueamento usando o seu lobby fortíssimo em proveito da rua, e mais recentemente tem agentes no mercado imobiliário a obter informações comerciais de natureza diversa, nomeadamente das novas marcas e tendências, para que a rua se modernize a todos os níveis constantemente. Perguntarão quem paga tudo isto? Os próprios lojistas e proprietários, como parece fazer sentido. Existe uma entidade paga por todos que defende os interesses da rua, garantindo assim melhorias individuais. Na essência, as diferenças para um centro comercial moderno, embora existam, são já reduzidas. A Regent Street (www.regentstreetonline.com) vai ainda mais longe: para além de tudo o resto, esta rua tem um logotipo próprio e uma assinatura (“Where Time Is Always Well Spent”). A cereja no topo do bolo são os tapumes colocados nas lojas quando as mesmas estão em fase de obras, onde para além do logotipo e da assinatura da rua se podem ver fotografias das lojas concorrentes na mesma rua, com indicações de como lá chegar. É o mais perfeito exemplo de que comércio tradicional e comércio de rua não são a mesma coisa e podem mesmo ser o contrário um do outro.

Publicada porSilva à(s) 04:24  

6 comentários:

Anónimo disse... 15 de junho de 2008 às 21:28  

Não vem a propósito do seu post mas aqui fica o link da revista digital "Franchising Magazine", da qual sou editor, que na edição deste mês tem um texto seu publicado neste blog intitulado "Sunday, bloody sunday".

Anónimo disse... 15 de junho de 2008 às 21:29  

http://www.interlig.com.pt/franchisingmagazine/

Anónimo disse... 19 de junho de 2008 às 15:20  

Uau!! Fantástico conceito! Muito interessante.
Gostei muito de ler este texto, embora não tenha compreendido alguns termos (mix?). Há alguma leitura complementar que recomende sobre este tipo de gestão tão particular?

Anónimo disse... 21 de junho de 2008 às 06:50  

Excelente artigo, Parabéns! No nosso pais dificilmente funciona. Ninguém toma a iniciativa de tentar juntar os interessados, embora tenham interesses comuns. Cada um olha apenas para o seu umbigo. Segundo sei existe que já tenha projectos para Braga e Coimbra no sentido de trabalhar um determinado quarteirão com uma gestão profissional, que certamente irá beneficiar e muito o centro destas cidades.

Anónimo disse... 21 de junho de 2008 às 15:55  

jpinto, não penso que a dificuldade de colocar um projecto destes em andamento esteja no eventual empreendedor. Eu diria que será tremendamente difícil conseguir convencer comerciantes a a aderir a um sistem deste género. Mentalidades...

Anónimo disse... 24 de junho de 2008 às 15:26  

Boa Noite,

recomendo leitura sobre tudo que tem a ver com as BID americanas. Há muita informação online (p. ex de Times Square).

Em Portugal há um problema de regulação e de legislação que tem de ser mudado para suportar projectos deste tipo. Ou eñtão entrarem como PIN.

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